((*) Viviane Sampaio
No Brasil, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) é uma doença que atinge atualmente entre 3 e 4 milhões de pessoas. Muitas destas pessoas, embora tenham suas vidas gravemente comprometidas pelos sintomas, nunca foram diagnosticadas e tampouco tratadas. Talvez a maioria desconheça que seus pensamentos e comportamentos fazem parte de uma doença (1).
Conforme o DSM-IV (2), os sintomas apresentados no TOC são as obsessões e compulsões que acontecem por mais de uma por dia e que causam significativo prejuízo na rotina da vida do paciente e seus familiares.
Obsessões são idéias, pensamentos, palavras, frases, números ou imagens que se repetem persistentemente na consciência do indivíduo sem que ele consiga neutralizá-los ou afastá-los de sua mente. As obsessões mais conhecidas são:
(A) Obsessões com sujeira, contaminação, limpeza e doenças: preocupação exagerada com limpeza, medo de ser contaminado ou contrair alguma doença.
(B) Obsessão com perfeccionismo: preocupação exagerada em falhar ou de ter dúvida.
(C) Obsessões de armazenagem/poupança: acumular, colecionar ou guardar objetos inúteis (jornais velhos, documentos, caixas de sapato, garrafas de plástico, roupas sem uso etc.)
Essas obsessões são acompanhadas de emoções intensas (ansiedade, medo, culpa etc) e levam a pessoa a fazer algo (compulsões ou rituais) ou a evitar a fazer como tentativa de diminuir o sofrimento provocado pelas emoções e pensamentos. Entretanto, essas atitudes só proporcionam um alívio momentâneo e não melhoram o seu quadro clínico. São exemplos de compulsões:
(1) Compulsões por limpeza e contaminação: lavar as mãos, escovar os dentes, lavar móveis e objetos inúmeras vezes sem parar, trocar excessivamente de roupa mesmo que estejam limpas, usar sabão, detergente e desinfetante de forma descomunal, tomar banhos demorados, eventualmente usando álcool, exigir que familiares ao virem da rua tirem os sapatos ou tomem banho, passar o guardanapo nas louças ou talheres do restaurante antes de servir-se etc.
(2) Evitações por limpeza e contaminação: a pessoa evita tocar objetos, usar utensílios, freqüentar lugares sujos ou contaminados como hospital e salas de espera de clínicas, evita apertos de mão, não senta em bancos de praça ou coletivos, não usa banheiros coletivos, não usa toalhas ou lençóis de hotéis, não usa telefones públicos, não freqüenta a piscina, não toca em trincos de portas, corrimão ou tampas de vasos de banheiro etc.
(3) Compulsões de verificação ou controle: verifica repetidamente (por exp.: 6 ou 7 vezes) fechaduras, fogão, gás, janelas, torneiras, portas, bolsa, portas de carro etc.
(4) Repetições: relê ou reescreve parágrafos ou páginas, passa a limpo bilhetes, cartas ou listas de supermercado, relê documentos e não entrega para os colegas de trabalho, mesmo depois de não ter encontrado qualquer erro, entra e sai pela porta, por exemplo, 4 ou 5 vezes, senta e levanta da cadeira, por exemplo, 2 ou 3 vezes, etc.
(5) Compulsão por ordem: alinha quadros, objetos e roupas simetricamente, coloca numa certa seqüência pessoal os objetos (exp.: pastas, cadeira, luminárias e computador), etc.
(6) Compulsão por contagem: contar janelas de prédios, de pessoas na fila, contar ou repetir inúmeras vezes uma seqüência de números mentalmente etc.
Existem outras obsessões e compulsões. Acima foram expostas apenas as mais conhecidas em geral. Nas três últimas décadas houve avanço notável no tratamento do TOC. Conforme as pesquisas científicas, a psicoterapia tem se revelado de grande ajuda para a maioria dos portadores da doença, mesmo para aqueles que não obtêm melhora utilizando medicamentos (3). Portanto, informe àqueles que estão sofrendo que há alternativas para a doença.
REFERÊNCIA CITADA
1) CORDIOLI, Aristides Volpato. Vencendo o transtorno obsessivo-compulsivo: manual de terapia cognitiva-comportamental para pacientes e terapeutas. Porto Alegre: Artmed, 2004.
2)- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA) Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 4 ed. (DSM-IV). Washington DC, 1994.
3) CORDIOLI, Aristides V, HELDT, Elizeth, BOCHI, Daniela B et al. Cognitive-behavioral group therapy in obsessive-compulsive disorder: a clinical trial. Rev. Bras. Psiquiatria., Sept. 2002, vol.24, n.3, p.113-120.
(*) Viviane Sampaio é Psicóloga, com consultório em SP, fones: (11) 3097-9753 ou (11) 9808-3718,
e-mail: psicologavivianesampaio@yahoo.com.br
Fonte: Do portal www.defesadotrabalhador.com.br