No dia 19 de setembro, às 19h00, o Sindicato dos Advogados de São Paulo iniciou o Ciclo de Debates “Brasil Ontem e Hoje”, na sede do Sindicato, na Rua da Abolição, no Centro.
Nesta rodada, além da participação do presidente Fábio Gaspar e da diretora Luzia Canthal, o debate teve como convidados especiais o ex-deputado José Genoíno e o advogado e ex-presidente do SASP, Ricardo Gebrim.
Ao final do debate houve um Coquetel com música, executada pela “prata da casa”.
Após breve abertura do evento pelo presidente do SASP, Luzia apresentou os debatedores e afirmou que Genoíno fez parte de sua formação, sendo uma referência para toda uma geração de jovens. Lembrou também da precarização do trabalho verificada nos últimos anos com o surgimento dos chamados ‘cyberproletários’.
Abrindo o debate, Ricardo Gebrim lembrou que o Sindicato dos Advogados “é uma casa muito forte, e tenho orgulho de estar aqui desde 1991”.
Para ele, o novo fator da conjuntura mundial é a ultrapassagem chinesa, que ocorrerá em breve, quebrando a hegemonia dos EUA, no momento de uma crise mundial no contexto do capitalismo.
No Brasil a primeira grande ofensiva do neoliberalismo foi comandada por FHC (o presidente Fernando Henrique Cardoso), mas agora essa ofensiva de Bolsonaro é mais grave e profunda. A burguesia conseguiu uma rara coesão em torno de suas pautas, por exemplo, com a unidade em torno da pauta econômica, que tem como principal resultado a maximização de lucros para os donos do capital e a destruição de direitos dos cidadãos.
Este cenário tem levado ao alto desemprego, à desindustrialização, com a consequente paralisia do proletariado, vista na redução das greves e da ofensiva das organizações sindicais.
Para ele, Bolsonaro é apenas um representante político do Golpe, que executa o programa econômico do golpe, que Temer não conseguiu executar em seu projeto “Ponte para o Futuro”. Gebrim calcula que o Capital (especialmente o internacional) poderá ter lucros de mais de U$ 800 bilhões (algo em torno de 3 trilhões de Reais) com privatizações e desonerações, que recaem diretamente sobre os trabalhadores e com perda significativa do patrimônio e da soberania nacional. Mas para ele o golpe foi possível devido à frustração das massas com a democracia e a adesão aos discursos de ódio e do combate à corrupção.
Para ele, a solução do impasse imposto ao campo progressista não é fácil. É preciso preservar-se no momento em que querem nos destruir, e aprofundar a unidade de amplas camadas democráticas e da esquerda. A aliança deve ser ampla, porque o inimigo é muito difícil de ser combatido. “O programa da burguesia é o da destruição do Brasil”, afirma Gebrim, e temos de fazer o enfrentamento para impedir isto.
Luzia Canthal indagou onde as esquerdas erraram nas relações com as Forças Armadas, lembrando que Genoíno era um bom interlocutor com os militares no governo Lula. Ela também sugeriu que uma unidade das esquerdas poderia ser buscada em torno dos direitos e garantias fundamentais estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, por meio de uma frente democrática e progressista. Em seguida passou a palavra a Genoíno.
Para o ex-deputado José Genoíno, do PT, “nós fomos derrotados pelos nossos acertos, e os nossos erros facilitaram a vitória dos nossos inimigos”. Mas ele é otimista quanto ao futuro. “Tivemos uma derrota estratégica, mas eles ainda não tiveram uma vitória estratégica”. Genoíno acredita ser possível construir uma alternativa nacionalista para o Brasil, que devolva a soberania aos brasileiros. Numa crítica às novas tecnologias e aos ataques contra o emprego formal, ele diz que “a revolução tecnológica produziu a uberização da mão de obra”.
Para ele, o nacional-desenvolvimentismo tem se inviabilizado pela financeirização e internacionalização do Capital. “O capitalismo nega a democracia, porque ela é direito demais, é liberdade demais”, e tudo isso reduz as taxas de seus lucros. Genoíno acredita que “o mercado quer ser o tutor de uma sociedade infantilizada”.
Para ele, os dois impasses sobre os quais a esquerda deve se debruçar para lutar são os da retomada do desenvolvimento nacional e da luta pelas liberdades democráticas. O neoliberalismo acabou com a aliança consagrada pela Constituinte de 1988, do Estado Liberal com o Estado Social, “isso não existe mais, morreu”.
Para Genoíno, um discurso moralista a pretexto de combate à corrupção, aliado a expressões retiradas do militarismo como “Força Tarefa”, “Operação”, realizaram uma cruzada medieval que conquistou adesões na sociedade, mas que tinha como real objetivo derrubar o povo do poder e retomar o projeto da burguesia. Genoíno acredita que a ilusão da esquerda foi acreditar que o judiciário poderia fazer a mediação para a resolução dos conflitos, mas isso não aconteceu.
Genoíno acredita que a única solução é partir para o enfrentamento direto do governo Bolsonaro e suas pautas, unir todos os setores, sociedade organizada, mulheres, artistas, indígenas, movimento Negro, entre outros, para uma estratégia de acúmulo de forças, na disputa contra-hegemônica do capitalismo. “Erramos por não fazer a disputa de corações e mentes pelo nosso projeto, não podemos mais decepcionar nossos eleitores”, alertou. Mas ele diz estar otimista e acredita ser possível avançar tanto na luta social como na luta institucional. No final destacou a necessidade da defesa do legado do presidente Lula e da luta por sua liberdade. “Se negociarmos a cabeça do Lula na bandeja dourada da conciliação de uma grande frente de esquerda, esse vai ser o nosso maior erro”, concluiu.
Para o presidente do SASP, Fábio Gaspar, “foi uma enorme honra ter o Genoíno e o Ricardo Gebrim hoje nesta mesa de debates”. Para ele, “esse formato faz muita falta, e vai ser difícil realizarmos outro debate com um nível tão elevado como o de hoje”, elogiou.
“Vocês iluminaram as nossas mentes e os nossos corações, Gebrim, Genoíno e Luzia Canthal”, concluiu.
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(Comunicação SASP)