A Vida Extraordinária de Herbert Daniel

por | maio 4, 2017 | Jornal do Sindicato | 0 Comentários

HERBERT   DANIELDia 25 de maio (quinta), das 19h às 22h
SASP- Sindicato dos Advogados do Estado de São Paulo

Rua da Abolição, 167, Bela Vista, CEP 01319-030 próximo a Câmara
Municipal

Fone:(011) 3105-2516

Inscrições gratuitas- será conferido certificado aos participantes

Informações:

Um dos maiores estudiosos no assunto, o historiador brasilianista James Green, da Universidade de Brown (EUA) e fundador do Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, estará no Brasil, James foi um dos responsáveis pelo capítulo de homossexualidade do relatório da Comissão Nacional da Verdade.

Autor do livro Ditadura e homossexualidade no Brasil: repressão, resistência e busca da verdade, Além do Carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX e Apesar de vocês: a oposição e a ditadura militar brasileira nos EUA. O historiador estará no próximo dia 25 de maio (quinta) das 19h às 22hs no SASP falando sobre o seu mais recente trabalho uma biografia do ativista gay e guerrilheiro Herbert Daniel, morto em 1992.

Em entrevista a revista Carta Capital James Green disse: Os anos de 1967 e 1968 foram muito importantes mundialmente porque foi um momento de questionamento de papéis de gênero, sexualidade, identidade. Surgem novas propostas identitárias, movimentos sociais de gays tanto na Europa, quanto nos EUA e América Latina. Aqui no Brasil também surgem, nesse período, novas maneiras de entender o corpo, a sexualidade e o gênero. E depois de um ano muito intenso de mobilizações contra a ditadura veio o AI-5, em 1968, que abafou totalmente qualquer possibilidade de formação de novos movimentos sociais.

Meu argumento é que se não houvesse o AI-5 e essa repressão da ditadura, se houvesse um estado como o JK, um governo Jânio Quadros ou João Goulart, certamente teria surgido, em 1968, 1969, o mesmo tipo de organizações que existiam na Argentina ou em Nova York, organizações LGBT, feministas, que iriam forjar movimentos de questionamento do conservadorismo da sociedade brasileira. A ditadura prejudicou muito, afetou muito e atrasou cinco, seis, sete anos, as possibilidades de surgimento de movimentos.

Com as manifestações estudantis em 1977 cria-se uma nova noção de “é possível sair na rua, contestar, questionar o poder do estado”. É quando surge o jornal “Lampião” e logo depois o grupo que vai tomar o nome Somos, em São Paulo, em 78, e um primeiro momento de um diálogo e consolidação internos, um processo de aglutinação de pessoas e depois, a partir de 79, uma visibilidade pública. Esse momento é muito rico e coincide, quando, em 1978, o movimento operário sai de dez anos de proibição de greves e vai organizar as greves de 78, 79. E justamente em 1980, quando há, de um lado a greve geral do ABC enfrentando a política econômica e a Lei de Segurança Nacional, e, do outro lado, uma tentativa de juntar os nove grupos que já haviam surgido no país a partir da fundação do grupo Somos em Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Guarulhos. E no nosso congresso decide-se o apoio à greve geral e surge a proposta de ir ao Primeiro de Maio justamente durante a greve. É quando há um debate muito intenso. No movimento gay, há um setor que não queria tentar diálogo com o movimento sindical, porque achava que seria uma experiência infeliz. E o outro, mesmo sem saber quais seriam os resultados, resolveu ir participar e levantar conceitos novos totalmente revolucionários para os anos 80: contra a discriminação do trabalhador homossexual, colocando a possibilidade de um dia o sindicato defender o membro homossexual. Aquilo era impensável naquela época. Sobre o Livro: Herbert Daniel foi uma pessoa muito interessante.

Quando ele estava no final dos estudos escolares, foi para um colégio militar e depois entrou na faculdade de Medicina, em 1965. Ele descobriu um mundo gay e relações sexuais eventuais. Mas, na universidade, entra em contato com o movimento estudantil e fica apaixonado por essa energia crítica, começa a conviver com a esquerda dentro da faculdade de Medicina. Nessa época, um membro do Partido Comunista tenta ganhá-lo para a organização sem saber que ele é homossexual. Mas ele entra para um grupo político que é um racha da Polop, que depois vira Colina. Quando ele entra na organização, vê que não é fácil ser homossexual e chega à conclusão que a única solução é sublimar, reprimir a sua sexualidade. Assim, entre 1968 e 1972 ele não transa com outros homens. Ele se apaixona por um companheiro de organização e confidencia esse amor para um amigo, que é dirigente de tal organização. No entanto, essa geração não cria um espaço para que se assuma a homossexualidade.

Em 1968, com a entrada dessas organizações para a luta armada, eles entram num ritmo enlouquecido, no qual não havia tempo para se discutir, não havia acesso ao debate sobre opressão, sexualidade e luta revolucionária. Ele cede à pressão da organização e reprime sua sexualidade durante quatro anos. Por conta da luta armada, ele acaba escondido num apartamento em Niterói (RJ), momento em que começa a ter, eventualmente, relações. E faz amizade com uma pessoa, o Claudio Mesquita, que depois vai ser seu companheiro durante 20 anos.

 

Assessoria Sasp*

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