A formação do império americano

por | maio 25, 2009 | Notas Rápidas | 0 Comentários

 
De Carol Proner *

Com o título “Formação do império americano: da guerra contra a Espanha à guerra no Iraque”, o comemorado cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira lançou no ano de 2005 o livro que lhe rendeu o Prêmio Juca Pato como intelectual do ano (o prêmio foi entregue no último dia três de agosto, pela Academia Paulista de Letras). Moniz Bandeira, 70 anos, consagra-se como um dos maiores intelectuais da América Latina e, com imensa capacidade de trabalho, vem produzindo ano após ano estudos notáveis que contribuem para situar o Brasil no contexto internacional, especialmente em conexão com a política de estado norte-americana.

Aclamado pela crítica como o grande especialista mundial em relações bilaterais Brasil-Estados Unidos, seus estudos são indispensáveis na formulação de políticas nacionais prudentes e realistas. Moniz Bandeira confirma a tese do distanciamento acadêmico do observador. Como exilado político, viajou o mundo, permanecendo mais de uma década na Alemanha, e soube valer-se da distância, aliada a um sentimento nacional que jamais se deixou exilar, para produzir um pensamento fluido e ao mesmo tempo abrangente com implicações globais.

Em 36 capítulos, o autor denuncia a estratégia estadunidense para desenvolver sua economia de mercado, utilizando-se de processos de perversão da democracia, e de manobras recorrentes de guerra contra estados soberanos: “A história dos Estados Unidos confundiu-se com a própria economia de mercado, com o desenvolvimento do sistema capitalista, que é um todo mundial e não uma soma de economias nacionais, pois foi a única formação econômica com suficiente capacidade de expansão para abarcar todas as regiões do planeta”.

A compilação dos fatos que se interconectam por meio de manobras do capital financeiro, da indústria e dos serviços no caminho dos grandes monopólios tecnológicos, vinculada à corrida armamentista e ao poder político e militar estadunidense produzem um resultado que desautoriza aqueles que, movidos por esforço condescendente com a política do país hegemônico, tentam analisar a obra como fruto de uma visão conspiratória e antiamericanista.

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Moniz Bandeira denuncia a utilização universalista dos conceitos de desenvolvimento e de democracia, demonstra a utilização do espaço público – governo estadunidense – e do espaço privado – grandes multinacionais, conglomerados, capital financeiro – em perfeita harmonia para conduzir políticas de colonização regional, continental e global. As táticas passam pelo estabelecimento de bases militares estratégicas, por doutrinas – receitas de desenvolvimento, pela cooptação de alianças nacionais – a famosa 5.ª Coluna, pelo serviço secreto, pelo combate de totalitarismos e de governos anti-democráticos, pela eliminação do “eixo do mal”, passa também pela “defesa dos direitos humanos” do mundo civilizado e pela automática legitimidade de violação dos direitos humanos do mundo que não é civilizado. Por fim, as táticas passam atualmente pelo caminho dos acordos de comércio, resguardando o unilateralismo e os interesses nacionais estadunidenses contra o multilateralismo, a partir do estabelecimento de uma ordem econômica mundial e das Nações Unidas.

O resultado torna a obra um clássico no momento de sua publicação, a faz leitura obrigatória em todos os cursos de relações internacionais do país, a incorpora como bibliografia indicada para na formação do corpo diplomático brasileiro e a torna referência indispensável para toda e qualquer formulação de política externa nacional.

Resta claro, conforme adverte o autor, que um projeto de integração soberana de países periféricos não faz parte dos planos dos países hegemônicos. Para tal, nos oferecem como alternativas a ALCA ou ardilosos acordos bilaterais. Em tempos de esforço para a construção da Comunidade Sul-Americana de Nações, de fortalecimento do Mercosul e da construção de contra-hegemonias, a estratégia do império americano, seus artifícios e especialmente suas debilidades devem ser bem conhecidas para que o projeto de integração seja viabilizado com êxito.

(*) Carol Proner é especialista em Direitos Humanos e coordenadora do curso de Relações Internacionais da Unibrasil.

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