Tereza Cruvinel: Até quando Eduardo Cunha resiste?

por | ago 3, 2015 | Jornal do Sindicato | 0 Comentários

Por ora, o PMDB não o acompanhou na decisão de romper com o governo e o único apoio externo recebido foi do Solidariedade. O PSDB mantém-se convenientemente distante do furacão que ronda Cunha. Não o apoia, temendo a contaminação. Não o ataca, temendo a reação do aliado com quem até há poucos dias conspirava para derrubar Dilma.

 

Tereza Cruvinel*,
em seu blog

 

eduardo-cunha-facebookAgosto promete. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, anunciou neste sábado (25) que pretende permanecer no cargo mesmo que venha a ser objeto de denúncia do procurador geral da República Rodrigo Janot ao STF: “Não cogito qualquer afastamento”. Apesar de sua disposição para resistir, a história recente de presidentes encalacrados das duas casas legislativas ensina que, quando o desgaste aumenta, o acusado acaba sendo ejetado da cadeira pela pressão de seus pares.

A denúncia de Janot é esperada até pelo próprio Cunha para o mês de agosto. Aliás, ele chegou a temer que fosse apresentada durante o recesso. Fontes do Ministério Público têm dito a parlamentares que ela será forte e consistente. Tendo adotado a estratégia de salvar-se espalhando o fogo, Cunha deve criar todo tipo de dificuldade para o governo logo que os trabalhos da Câmara forem reabertos, em agosto.

Para se manter no cargo, entretanto, não bastará a coragem e a determinação, virtudes que não lhe faltam. Será preciso também “combinar com os russos”, o conjunto de partidos e de deputados. Estarão eles dispostos a enfrentar um eventual clamor externo pelo afastamento de Cunha? Vejamos os exemplos mais recentes de presidentes ejetados, que são os de Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho, no Senado, e o de Severino Cavalcanti, na Câmara.

ACM, rei da Bahia desde o regime militar, manteve-se poderoso e intocável na era FHC. Presidiu o Senado no biênio 1997-1999 e foi reeleito para o período 1999-2001. Desgastou-se numa querela com Jáder Barbalho, que o sucedeu no cargo, e logo depois se envolveu no rumoroso escândalo da violação do painel eletrônico do Senado. Acabara de deixar a presidência, mas sua influência virou pó, e quando viu que seria cassado, renunciou para não se tornar inelegível.

Jáder, por sua vez, mesmo depois de assumir a presidência do Senado derrotando o candidato de ACM, continuou sendo alvo de frequentes denúncias de corrupção pela mídia. Embora seu PMDB fosse majoritário no Senado, para contornar a pressão da casa pediu licença do cargo por 60 dias. Mas quando a pressão aumentou, renunciou à presidência em setembro e ao próprio mandato no início de outubro.

Severino Cavalcanti era um deputado do baixo clero quando se elegeu presidente da Câmara em 2005, graças à divisão nas hostes governistas. Em setembro estoura o escândalo do “mensalinho”, em que o dono de um restaurante concedido pela Câmara o acusa de cobrar-lhe uma propina de R$ 10 mil mensais para manter a concessão. Severino tenta resistir, mas diante do desgaste da Câmara não resiste à pressão dos deputados, renuncia ao cargo e depois ao mandato de deputado.

Para ter um destino diferente, Cunha precisará de um apoio inabalável da maioria dos partidos e de deputados, dispostos a enfrentar um grande desgaste para mantê-lo no cargo. Por ora, o PMDB não o acompanhou na decisão de romper com o governo e o único apoio externo recebido foi do Solidariedade.

O PSDB mantém-se convenientemente distante do furacão que ronda Cunha. Não o apoia, temendo a contaminação. Não o ataca, temendo a reação do aliado com quem até há poucos dias conspirava para derrubar Dilma.

 

 

(*) Jornalista | Retirado de Diap

 

 

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